De repente 
o centro do universo 
são os teus olhos
Desse azul 
e profundidade 
que constrangem 
os oceanos
Essa imensidão 
de belezas 
perigos eternizados
E tudo o que existe 
para mim 
são os teus olhos
Meu naufrágio 
com o canto de mil sereias
Nesse sem fim 

de mistérios 
a mim revelados
De repente 

não existe mais nada, 
só os teus olhos
Sossegando meu peito 

de todas as decepções 
e planos
Livrando minha mente 

de todos os sonhos 
e cansaços
E quando eles se fecham 

de medo e prazer, 
teus olhos
São eles 

que eu encontro 
ao abrir os meus
Depois do beijo, 

ainda com os lábios 
molhados

Agora onde 
tudo cabe
nada mais 
falta.

(Poemas Decorativos, Fevereiro 2013)


Esmaguei a flor

Minha sola de borracha número 42
Meus 85 quilos
Meus 55 anos
Minha coleção de ilusões perdidas
Minha sobrecarga de obrigações
Matei a flor
Por mero descuido
De quem vai passando
Assim sem reparar
Que as flores nascem
Em qualquer lugar

As rosas, 
belas rosas,
Nascem no esterco 
belas rosas
E devoram moscas 
belas rosas
No jardim das aparências

Não há lugar nenhum dentro de ti.
Não há espaço para existir,
Não há conforto para estar...
Em ti estou plantado como semente
Que não vingará.
Em ti estou enterrado vivo,
Desesperado por luz e ar.
E eu que nunca existi em mim,
Morro em ti da morte que se deseja,
Morte que deseja...
Morte.


(Ilustração, obra de Rafael Silveira fotografada na exposição realizada na FIESP, em São Paulo)

Já morri de amor 
muitas vezes. 
E com minha teimosia 
taurina 
renasci e amei 
e morri novamente. 
Muitas vezes. 
Mas a cada vez 
descubro 
com alívio 
e certa tristeza 
que renasço menos. 
E amo menos. 
E a morte 
já não faz 
tanta diferença.

As lembranças são um castigo
As boas e as tristes
Lembranças são fantasmas
Que nos prendem a algum lugar
De onde nunca conseguiremos sair
E para onde não podemos voltar